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sexta-feira, 20 de abril de 2018

Ártemis


Qual a vida que não teme mais a morte? A vida que fizestes se esvair? A vida que tentou inúmeras vezes se afirmar e não conseguiu. A vida que não tem descendência e que não viverá em sua espécie. Ela não tem mais nada. Todas as vezes ela buscou se afirma enquanto vontade de vida, ela falhou, isso lhe foi mostrado da maneira mais cruel: - você não presta, não é bom, não serve para isso.
A vida pulsou por um tempo, resistiu. Porém, chegou o momento que ela não suporta mais, suas forças se vão, suas energias esvaem-se. A dor lhe toma por companhia, ela se rende. A vida passou a aceitar a dor como sua companheira, por fim, toda a esperança que lhe restava foi tirada. Restou apenas uma dor, algo que lhe aperta o peito, ela se perguntou: -  qual o meu crime? – sou tão ruim a ponto de não deixar pósteros?
Essa vida já não teme mais nada, ela sabe que seus dias estão contados, e chegando ao seu fim. Ela vai desaparecer sem deixar rastros, ela se tornará apenas mais uma poeira no universo, ninguém lembrará dela. Ela reza então para que seus dias sejam os mais breves, ela clama aos deuses pelo seu fim. – Eu não viverei eternamente na minha espécie, o que eu faço aqui então? -Me levem, não quero mais.
Sua oração chegou aos deuses, então eles resolveram dar-lhe por companhia uma Deusa[1], a mais bela, casta e indomável. A Deusa que não pode ser tocada por nenhum mortal ou deus, ela jurou eternamente ser casta, jamais seria profanada. A vida a teria por companhia, podendo apenas contempla-la, adora-la e render-lhe sacrifícios. A vida continuaria sem continuidade, mas teria uma companhia, a mais bela e forte de todas.
De tão bela que a Deusa é, a vida se curvou a sua beleza. A sua beleza é ditadora, não pode ser questionada, ela é bela, a vida se rende, torna-se escrava da beleza, e fiel a sua senhora. A dor que era então a única companheira da vida, resolve ficar, e servi a Beleza junto com a vida. Dor e vida permanecem então juntas, nunca se separando, ambas ficam juntas da Deusa, a servindo, e a vida continua a esperar o fim de seus dias, mas agora com pequenos momentos de beleza.




[1] Refere-se aqui a Deusa Ártemis.