Sentia
me livre ao teu lado, poderia voar, chegar até os limites da nossa atmosfera,
eu era livre, seguro de mim durante um momento. Como Íkaro havia nos ensinado
não se pode voar com materiais que se tornam líquidos, eu não aprendi a lição,
a usei como asas e voei, foi em alturas que não conhecia, algo inimaginável
para um ser das trevas, acostumado com as sombras que agora eu era.
A luz
causa efeitos desconhecido nos seres da escuridão. Ela, os fazem pensam que
podem ser diferentes, que podem viver, que podem ser livres, quando sabemos que
não, esses seres são da escuridão, não há amor, alegria ou qualquer coisa “boa”
para eles, eles devem ser desprezados. Não são dignos do convívio humano. Elas
são apenas criaturas da dor, ódio e sofrimento. Não podemos dar-lhes mais nada,
não são humanos, não são digno, talvez por um breve momento os humanos para
exercita a caridade levem para eles pequenos momentos de luzes, talvez para
aliviar suas dores, ou piora-las, no final não sei, por misericórdia ou
fetiche, o caso se deu.
Eu
voava livre, sentia o ar, sentia as nuvens em minha pele, por um momento
consegui sentir a brisa do mar em minhas faces, eu era aquilo que sonhei, um
ser pleno, livre de minhas amarras, de minhas trevas, meu ser via a luz, sentia
o sol, por um momento brotou no meu peito alguma alegria. Ver a luz, sentir o
seu calor me deixou feliz. Como eu queria estar perto dessa luz, como queria
estar com o calor que emanava dela.
Mas
como já dizia o poeta alemão aquilo que traz a nossa alegria também é a fonte
de nossa desgraça. A luz e o calor que eu tanto gostava derreteram minhas asas,
o calor as liquefizeram, a gravidade logo tomou conta de mim, e em um rápido momento
me vi em queda, não mais me controlava, as nuvens que outrora me faziam
companhia agora passavam por mim velozmente, o ar que outrora era agradável agora
era quente, meu coração disparou, não sentia mais meu corpo, uma força incontrolável
me sugava, em um breve instante eu rezei aos deuses, esses ignoraram minhas
preces, eu apenas cai, conforme caia, meu corpo se desfalecia, suado, cansado,
meus músculos tentavam responder porém era em vão, tentava me segura mais onde?
Ou em quem? Cada segundo o fim parecia estar próximo, e estava.
Meu corpo
foi lançado violentamente ao solo, nunca me pareci tão frágil, choquei me ao
solo com tamanha força que me partir em mil pedaços, a dor foi intensa, nunca
havia me sentindo assim, pode ver meu sangue respingar, estranhamente a vida em
mim ainda resistiu, a dor não foi capaz de me matar, a essa hora apenas rezava
para que a morte me libertasse, mas como não posso me esquecer, sou um ser das
trevas, deus ou o diabo me recusaram, não posso entrar no paraíso, não sou
digno disso, sou um ser monstruoso, incapaz de ter amor, de ter compaixão, as
portas do céu foram fechadas, os santos me viraram as costas, lançaram me no
inferno.
No inferno
não tive melhor sorte, o diabo olha, ri e fala, - és tão miserável que não é
digno de um local no inferno, vais embora, teu pecado é maior do que esse lugar
comporta, és um desgraçado, teu castigo deve ser o mais insuportável. Nunca terás
um lugar para chamar de seu. Vai vagar nas trevas, nunca terá lugar para
descansa, sem porto para atracar, sem amor, sem paz, serás atormentado com a
eternidade, com as dores do mundo, todos têm um local de repouso, tu não terás,
um ser tão horrendo, não achara paz. Vivera nas trevas, a luz não mais tocaras
teu ser, ficarás louco, e todas as dores do mundo habitarás no teu ser. O teu
tormento será a eternidade, a solidão, a loucura, e tua aparência será tão horrível
que não mais será reconhecido como humano, tornara-se um mostro, não resta
compaixão para ti. Todos o esqueceram, tua memoria será apagada. Ninguém o
reconhecerá. Este é o teu tormento. Tua única companhia vai querer te matar
todo o dia, e te provocará mais dores a teu peito, terás por única companhia a
filosofia. Até os seres miseráveis terão pena de ti. Pobre condenado, melhor
seria não ter nascido, se tivesse melhor seria ter se matado, agora és
condenado pelo pior crime, és condenado a ser filosofo.